domingo, 4 de outubro de 2015

Citações de "Os prisioneiros", um dos mais renomados livros de Rubem Fonseca



“DR. LEVY: (Para Amadeu) Mas a base da Revolução preconizada por Fromm e Mailer é a luta contra o Conformismo; um perigoso tipo de “autoridade” que chegou ao seu esplendor em meados do nosso século.
DR. PROM: Substituindo o pai, o mestre, o rei, o deus, a lei.
DR. LEVY: Exatamente. Como disse o grande Fromm, um tipo de autoridade anônima, invisível, alienada; em que ninguém dava ordens — nenhuma pessoa, nenhuma ideia, nenhuma lei moral — mas todos se submetiam. A quê?
DRA. KREUZER: À Conformidade!
DR. PROM: A essa coisa iníqua e asfixiante que era a comunis opinio.
DR. LEVY: (Sempre olhando para Amadeu, que atento segue suas palavras) Exatamente. Todos queriam ser iguais, e toda cultura era influenciada por isso. Vejam por exemplo a arquitetura de Le Corbusier, Gropius, Niemeyer e outros alienados, que se espalhou como uma epidemia pelo mundo, com as suas paredes de vidro e seus playgrounds coletivos condicionando os moradores a um mimetismo obsessivo. A pessoa não precisava sair da sua casa para ver ou ser vista, nas coisas mais íntimas.
DRA. KREUZER: Soube hoje que as últimas casas e apartamentos desse tipo estão sendo destruídos pelo Icontrab.
DR. LEVY: O mesmo ocorria com o que se denominava a Moda. Todas as pessoas se vestiam igual na Finlândia, em Gana, no Marrocos e no Curdistão. Pura imitação.
DRA. KREUZER: Agora as pessoas não podem mais se vestir igual. A não ser os membros uniformizados dos institutos, é claro.
TODOS: Excelente, excelente! “
Rubem Fonseca – Os Prisioneiros – “O Conformista Incorrigível”, publicado em 1963 pela Agir Editora 


Análise deste texto 
     Nessa passagem de "O Conformista Incorrigível", torna-se clara a relação que o autor faz, associando a autoridade imposta durante o período ditatorial (momento em que a obra foi publicada) com a crescente exposição dos seres humanos aos meios midiáticos, principalmente o rádio e a televisão. Como consequência, isso faz com que nos tornemos indivídios acomodados, alucinados. Observa-se que a prosa identifica como essas questões influenciam na cultura propriamente dita, bem como faz uma exacerbada crítica a temática da urbanização do Brasi, através de uma linguagem crua, que pode ser ilustrada nesse trecho: "A arquitetura de Le Corbusier, Gropius, Niemeyer e outros alienados, se espalhou como uma epidemia pelo mundo”. O autor surpreendeu a todos com uma escrita considerada "brutalista" que consagrou o realismo.
     As principais referências de Rubem Fonseca eram as narrativas policiais norte-americanas.
     Vale ressaltar que predomina na sua literatura a realidade vivida pelos brasileiros durante o contexto da Ditadura Militar, na segunda metade do século XX.
     No cenário dos abarrotados centros urbanos e do autoritarismo, essa obra torna explícita a falta de esperanças de toda uma Nação. Esse sentimento de desilusão com o próprio país e o retrato do capitalismo emergindo colaboram com a manifestação violenta advinda de um sistema que produziu pessoas rebeldes, inclusive com o uso da força física, como meio de se auto afirmar e acima de tudo, de se proteger.
     No que se refere a relação da obra com o Modernismo, pode -se destacar características como um relato com linguagem satírica, o desejo de se mostrar um país como de fato é, com sua pobreza, mazelas e desigualdades (ao contrário de obras anteriores nas quais estabeleciam-se o ufanismo e/ou patriotismo). Percebe-se de forma sucinta o desejo de rompimento com modelos impostos, que, ao analisarmos o texto, o mesmo prega a ideia de fugir de paradigmas, sejam eles da repressão ou alienação, para que não se cultive o comodismo.

2 comentários:

  1. Ótimo encontrar Rubem Fonseca aqui....

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  2. A análise do texto liga ele à Ditadura Militar. Mas a ditadura não começaria no ano seguinte ao ano de publicação do livro (1963)?

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