“DR. LEVY: (Para Amadeu) Mas a
base da Revolução preconizada por Fromm e Mailer é a luta contra o Conformismo;
um perigoso tipo de “autoridade” que chegou ao seu esplendor em meados do nosso
século.
DR. PROM: Substituindo o pai,
o mestre, o rei, o deus, a lei.
DR. LEVY: Exatamente. Como
disse o grande Fromm, um tipo de autoridade anônima, invisível, alienada; em
que ninguém dava ordens — nenhuma pessoa, nenhuma ideia, nenhuma lei moral —
mas todos se submetiam. A quê?
DRA. KREUZER: À Conformidade!
DR. PROM: A essa coisa iníqua
e asfixiante que era a comunis opinio.
DR. LEVY: (Sempre olhando para
Amadeu, que atento segue suas palavras) Exatamente. Todos queriam ser iguais, e
toda cultura era influenciada por isso. Vejam por exemplo a arquitetura de Le
Corbusier, Gropius, Niemeyer e outros alienados, que se espalhou como uma
epidemia pelo mundo, com as suas paredes de vidro e seus playgrounds coletivos
condicionando os moradores a um mimetismo obsessivo. A pessoa não precisava
sair da sua casa para ver ou ser vista, nas coisas mais íntimas.
DRA. KREUZER: Soube hoje que
as últimas casas e apartamentos desse tipo estão sendo destruídos pelo
Icontrab.
DR. LEVY: O mesmo ocorria com
o que se denominava a Moda. Todas as pessoas se vestiam igual na Finlândia, em
Gana, no Marrocos e no Curdistão. Pura imitação.
DRA. KREUZER: Agora as pessoas
não podem mais se vestir igual. A não ser os membros uniformizados dos
institutos, é claro.
TODOS: Excelente, excelente! “
Rubem Fonseca – Os
Prisioneiros – “O Conformista Incorrigível”, publicado em 1963 pela Agir
Editora
Análise deste texto
Nessa passagem de "O Conformista
Incorrigível", torna-se clara a relação que o autor faz, associando a
autoridade imposta durante o período ditatorial (momento em que a obra foi
publicada) com a crescente exposição dos seres humanos aos meios midiáticos,
principalmente o rádio e a televisão. Como consequência, isso faz com que nos
tornemos indivídios acomodados, alucinados. Observa-se que a prosa identifica
como essas questões influenciam na cultura propriamente dita, bem como faz uma
exacerbada crítica a temática da urbanização do Brasi, através de uma linguagem
crua, que pode ser ilustrada nesse trecho: "A arquitetura de Le Corbusier,
Gropius, Niemeyer e outros alienados, se espalhou como uma epidemia pelo
mundo”. O autor surpreendeu a todos com uma escrita considerada "brutalista"
que consagrou o realismo.
As principais referências de Rubem Fonseca
eram as narrativas policiais norte-americanas.
Vale ressaltar que predomina na sua
literatura a realidade vivida pelos brasileiros durante o contexto da Ditadura
Militar, na segunda metade do século XX.
No cenário dos abarrotados centros urbanos
e do autoritarismo, essa obra torna explícita a falta de esperanças de toda uma
Nação. Esse sentimento de desilusão com o próprio país e o retrato do
capitalismo emergindo colaboram com a manifestação violenta advinda de um
sistema que produziu pessoas rebeldes, inclusive com o uso da força física,
como meio de se auto afirmar e acima de tudo, de se proteger.
No que se refere a relação da obra com o
Modernismo, pode -se destacar características como um relato com linguagem
satírica, o desejo de se mostrar um país como de fato é, com sua pobreza,
mazelas e desigualdades (ao contrário de obras anteriores nas quais
estabeleciam-se o ufanismo e/ou patriotismo). Percebe-se de forma sucinta o
desejo de rompimento com modelos impostos, que, ao analisarmos o texto, o mesmo
prega a ideia de fugir de paradigmas, sejam eles da repressão ou alienação,
para que não se cultive o comodismo.
Ótimo encontrar Rubem Fonseca aqui....
ResponderExcluirA análise do texto liga ele à Ditadura Militar. Mas a ditadura não começaria no ano seguinte ao ano de publicação do livro (1963)?
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